quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Todo o sangue tem a sua história.

No final do corredor, entre a porta e a janela que me permite a amplitude do olhar, vejo o recipiente que me mantém como um peixe em um aquário a 2 anos. Nesse ponto onde me coloquei feito sentinela, estacionei meus pensamentos e nenhum movimento do meu corpo se fez maior que a simples respiração. Foi um momento no dia cheio de trabalho que se fez necessário olhar para tudo aquilo. Lá em baixo, operários seguem firmes no mesmo rítimo que as barulhentas engrenagens das máquinas gráficas que engolem papel, e o cóspem dez mil impressos por hora. Mulheres no acabamento final, em meio aquela orquéstra sinfônica de sopros e rolamentos, intercalam um catálogo com a habilidade de uma aranha tecendo sua teia, e diante todo esse absurdo de movimentos e infinitos sons, um estopim me explodiu nos ouvidos, não se ouvia mais nada, não se via mais um movimento, meu sangue cortando minhas veias, correndo sem descanso no interior labiríntico do meu corpo, sem perder o rumo nem o sentido, empalideceu-me o rosto, fugindo subitamente, sangue forte, que espirra quando se faz um rasgão na pele, o mesmo que torna-se capa protetora de uma ferida, que torna lago um campo de batalha. O mesmo sangue que nos guia, que nos levanta, o mesmo que durmimos e despertamos.
O sangue. Por ele vivemos, por conta dele morremos. O mesmo que torna-se leite e alimenta as crianças no colo das mães, que se torna revolta e levanta um punhal, que se torna lágrimas e sentimentos de alegria e dor, o mesmo que se serve dos olhos para ver, entender e julgar. Homens de sangue nos olhos!
Serve-se das mão para o trabalho, para o afago, dos pés para ir aonde quiser. O sangue é homem, é mulher, cobre-se de luto ou de festa, e quando toma nomes que não são os seus é porque esses nomes pertencem a todos os que são do mesmo sangue. O sangue sabe muito, o sangue sabe o sangue que tem.
O tal sangue monta a cavalo e fuma cachimbo muitas das vezes, em outras olha com olhos secos porque a dor os secou, ele sorri com uma boca de longe e um sorriso de perto, esconde a cara mas deixa que a alma se mostre, o sangue implora a misericórdia, desenha figuras vigilantes nas paredes das casas, faz-se gigante para subir às muralhas, ele ferve e se acalma, às vezes é como um incêndio que tudo abrasa, é uma luz quase suave, suspiro... Um sonho, um descansar a cabeça no ombro do sangue bom que está ao lado.
E nesse momento ele foi medo e conforto, pensei no homem que conheço a pouco tempo, mas ainda não o conheço, nem o conhecerei tão logo, e acho que levarei a vida inteira para conhecê-lo.
Homem que vejo um bom homem no olhar compenetrante que têm. Seus olhos claros o torna mais claro quando nos olhamos olhos nos olhos. Homem de boa educação, que sabe educar os que são seus, que planta alegria no seu lar, que acolhe adolescentes como filhos, que se dispõe para a fraternidade, homem que me deixa curioso, homem de paz, que sabe o que é certo e errado, gosta de futebol. Homem Comum, que me faz querer ser comum assim um dia. Homem que pelo sangue forte me assustou nesse momento que estagnei vendo tudo aquilo de cima, no momento que fiquei surdo quando o barulho era incessante, seus caminhos internos que por onde sua energia corre, encontrou um ponto obstruído, meus pensamentos pararam aí.
O sangue.
Trocaria o meu ainda fino, com o dele, para que evitasse esse susto que me deu, que ainda assusta a quem eu gosto.
Vai passar, não posso trocar.
Minha próxima semana nesse aquário será a última, assim como acredito que nessa próxima semana, tal homem não vai mais ter esse problema nos seus labirintos internos que correm seu bom sangue. O coração dele é mais forte que eu posso imaginar, e seu sangue é eterno como a esperança.
Torço por você, J. Mauro.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Do It

Lenine

Composição: Lenine/Ivan Santos


Tá cansada, senta
Se acredita, tenta
Se tá frio, esquenta
Se tá fora, entra
Se pediu, agüenta
Se pediu, agüenta...

Se sujou, cai fora
Se dá pé, namora
Tá doendo, chora
Tá caindo, escora
Não tá bom, melhora
Não tá bom, melhora...

Se aperta, grite
Se tá chato, agite
Se não tem, credite
Se foi falta, apite
Se não é, imite...

Se é do mato, amanse
Trabalhou, descanse
Se tem festa, dance
Se tá longe, alcance
Use sua chance
Use sua chance...



Se tá puto, quebre
Ta feliz, requebre
Se venceu, celebre
Se tá velho, alquebre
Corra atrás da lebre
Corra atrás da lebre...

Se perdeu, procure
Se é seu, segure
Se tá mal, se cure
Se é verdade, jure
Quer saber, apure
Quer saber, apure...

Se sobrou, congele
Se não vai, cancele
Se é inocente, apele
Escravo, se rebele
Nunca se atropele...

Se escreveu, remeta
Engrossou, se meta
E quer dever, prometa
Prá moldar, derreta
Não se submeta
Não se submeta...

domingo, 9 de agosto de 2009

Palha de Aço

Minhas veias saltadas no braço esquerdo, instigam minhas artérias a empurrarem a grossa camada de pele e pêlo do braço direito, a cabeça... essa já acustumada com o incômodo de insessantes pensamentos fazendo um barulho silencioso o tempo todo, todo tempo, tendo o tempo todo no tempo a entender o por quê de todas as coisas que me dou a atenção, ser bicho quando a pretensão doutro homem se quer mostrar de exemplo da raça de homens corretos.
Alguns se julgam ser corretos por estarem comprometidos com suas religiões, suas crenças.
Crêem em quê? De onde vêem tanta certeza do que é o correto ser o que são? palavras ouvidas de um outro homem, exemplos de outro homem, e então, seguem como se fossem proprietários da verdade humana.
Querem ouvir de mim, quem sou eu. E eu, não sei dizer quem sou, nem nunca saberei, nem nunca vou me deixar que me incomodem com isso o tempo todo, todo o tempo. Sou nada. Não sou correto, não sei da verdade, sou instinto, feito bicho.
E para essas perguntas, sou resposta crua.
SILÊNCIO.
Estou encomodado, e n'um dia comum me senti vazio quando meus planos era para ter um dia cheio, cheio de quê? Foi como pedir ao pai, ensinar-me a ser palhaço. Palha de Aço.

Isso não se ensina.